Macuri Peteffi*
&
Rafael José dos Santos
I.
Desilusão.
O Houaiss Eletrônico diz que é um “substantivo masculino” (?), refere-se ao “ato ou efeito de desiludir (-se)”. Vem junto no verbete: “perda da esperança e descrença”, “sentimento de tristeza, frustração; desapontamento, decepção”. Só que, como antônimos, o dicionário registra “encantamento, ilusão”. Desiludir-se se refere, portanto, ao desencantar-se, a abandonar ilusões. Claro que a perda de uma ilusão e de um encanto traz sofrimento, depois do sofrimento a exigência de luto, e depois? Depois não vem um choque de realidade, pois o real é inacessível e, se fosse acessível, seria insuportável. O contato com o real é rápido como faísca, embora forte o suficiente para atirar o desiludido em uma espécie de abismo momentâneo. Depois? Depois vem a desordem provocada pela desorganização daquilo que se imaginava (vejam bem, imaginava) certeza, que situava o desiludido em uma espécie de ponto definido por coordenadas cartesianas (x, y, z).
Não
são as coordenadas que se dissolvem, são os eixos que não existem.
Desilusão,
angústia.
O
desiludido atribui a origem de seu sofrimento a um outro, individual ou
coletivo, (pessoa, pessoas, partidos políticos, religiões) que ele mesmo elegeu
como objeto do amor ou da esperança ou da utopia. O sofredor não consegue
assumir sua responsabilidade enquanto
não se der conta de que o outro “real” nada tem a ver com sua desilusão, pois a
iillusio nasce de um Outro que é
parte da própria estrutura do sujeito. Assumir a responsabilidade significa, portanto, entrar em contato com sua
verdade, uma verdade que é sabida (é
um saber), notem, não se confunde com
conhecimento. É um saber que não se
sabe, que se insinua em pequenas brechas, incidentes, pressentimentos que podem
nascer de indícios que vêm efetivamente do exterior, mas que o sujeito nega
transformar em saber.
Desilusão, o afeto que não se atrasa. O desamor do amor, o desfecho trágico do belo. Do desiludir enganchado na ilusão de que podemos ter aquilo que é obra do desejo. A alma do desiludido, pulsará de que jeito? Desilude aquele que lembra, o que quer esquecer... Sozinhos não estamos.
II.
A verdade do desejo é insuportável, daí os artifícios do não querer assumir o saber. Sinto raiva do outro que em minha fantasia deseja o que eu (penso que seja meu) desejo, mas devo negar-lhe este gozo que me é negado. Elejo objetos desejantes para os quais forneço minhas fantasias, são minhas criaturas, não há relação “real” entre eles e eu. Contraditoriamente, é nessa relação que busco preencher o vazio daquilo que não cessa de me chamar, pedir, solicitar. Do sonar desejo, coisa que retoma o sujeito da infância. Do trauma ao gozo, há apenas um passo. O biológico do ser que se perde no labirinto vertiginoso de suas pulsões. Cavalga... o teu desejo cavalga. A passos firmes inscreve seus caminhos e lhe mostra os seus. Força da pura perda, no Outro posso me reconhecer. A estética do desejo desenha o que queres, mas: che vuoi?
O que queres, Outro?
(*) Macuri Peteffi, graduando em Psicologia pela UCS, Bolsista
CNPq. Desde Freud até Lacan sou um leitor da psicanálise, pelo afã do
inconsciente.